Agora Sila Simali está recebendo suporte de brasileiros para remover as estruturas precárias e construir novas instalações.
FONTE: GUIAME, ADRIANA BERNARDO
Sila Simali é um jovem pastor da cidade de Mbale, em Uganda, que faz fronteira com o Kenya. Além de se dedicar à Igreja, e trabalhar na agricultura local e criação de galinhas como meio de subsistência, o jovem pastor cuida de um orfanato que atende 60 crianças.
Em entrevista exclusiva ao Guiame, o pastor conta que seu ministério com as crianças começou quando ele doou um alqueire e meio de terra para que fosse montada uma estrutura em madeira e barro – uma condição bastante precária, mas a única possível já que não havia recursos – para a instalação de um prédio para abrigar o orfanato.PUBLICIDADE
A situação de Sila sempre foi muito difícil por ele mesmo ter sido um órfão. Agora, adulto, casado e pastor, sua prioridade era cuidar de crianças que não tinham mais seus pais.
Sila tem 39 anos e construiu sua família com a professora Hellen Rose Simali, com quem tem dois filhos: Katrina Hellen Simali e Uriah van Simali.
Um desejo que nasceu da Bíblia
Sila conta que foi tocado por Deus durante um estudo bíblico. “Eu estava lendo a Bíblia, no livro de Tiago e fiquei em lágrimas. Senti que aquelas crianças, tão vulneráveis, precisavam ser ajudadas”, lembra.
“Eu era órfão e passei por todas as adversidades dessa condição”, conta Sila. “Com o passar do tempo, comecei a ajudar outros com o pouco que tinha, como por exemplo, os sem-teto”.
O trabalho de Sila era isolado. “Eu não tinha ninguém que pudesse me ajudar, tentei falar com as pessoas na igreja, mas elas não tinham condições porque me diziam que também precisavam de ajuda”, conta.
Sila diz que em uma conversa com sua esposa, ela o aconselhou a abrir um orfanato. “Eu achei que era algo muito grande, mas sentia muita dor pelos órfãos e o desejo de ajudá-los. Porém faltava terra [espaço] e a casa. Então eu disse à minha esposa que não dava para fazer aquilo”, conta.
O pastor diz que mesmo sem nenhum recurso, sua esposa o incentivou, por isso ele começou a criar galinhas para usar o dinheiro no projeto. “Deus me ajudou e consegui comprar as terras necessárias para o orfanato”, conta.
Após doar as terras para o projeto, Sila levantou no local estruturas de barro temporárias. Ele conta que na África, especialmente em Uganda, é difícil conseguir pessoas para ajudar, mas Deus providenciou outros que o fizessem.
“Eu agradeço a Deus pelo New Covenant Ministries International – NCMI (Nova Aliança Ministérios Internacionais) do Brasil, pois eles estão envolvidos conosco. Em Uganda, a ajuda é pouca, temos ajuda de 10 pessoas, mas às vezes também não conseguem nos apoiar”, diz.
Orfandade
A história de pobreza e orfandade vivida por Sila é comum em Uganda. Ele cresceu com os avós, após a morte dos pais. Somava-se a esse sofrimento, não saber o paradeiro da irmã. Foi uma vida bem difícil, ele conta, com falta de comida e sem pessoas que pudessem ajudá-los.
Muito cedo, Sila foi em busca de trabalho em cidades próximas de Mbale. “Eu não conseguia encontrar emprego e fiquei sem ter onde dormir, o Daniel [missionário] tinha organizado uma cruzada, e eles chamavam as pessoas para participar. Havia também o pastor Andrew, da África do Sul, que estava lá, aí eu fui à cruzada e pedi salvação em Jesus”, conta.
Após receber oração dos pastores, Sila chorou muito. Quando foi perguntado o motivo de sua tristeza, ele disse que não sabia onde estava sua irmã e falou ainda sobre os problemas que estava enfrentando.
O pastor Daniel decidiu ajudá-lo. “Ele me alugou uma casa e passei a trabalhar para ele”, conta.
Com aqueles poucos recursos, Sila se mantinha. Ele diz que seu pai tinha muitas terras e propriedades, mas que foram tomadas porque ele era muito jovem para conseguir administrar.
Sila economizava o dinheiro de seu trabalho, e conseguiu comprar um terreno, mas seu pastor logo acabou morrendo, em 2003.
Chamado ministerial
Naquelas terras, Sila começou uma igreja. “Eu saía às ruas pregando e muitos me ouviam. Então comecei a ter algumas pessoas na igreja e passei a ser o mentor de outros discípulos de Jesus”, relembra.
Assim nascia o ministério, localizado no leste de Uganda, distrito de Mbale, sub-condado de Bugobero, que hoje está associado à New Covenant.
O orfanato
As sessenta crianças cuidadas pelo orfanato ligado à Igreja Nova Aliança oferece comida, roupas e educação para elas. “Nós as ensinamos a não se sentirem órfãos, e nos colocamos como seus pais”, explica Sila.
A escassez de recursos impede o pastor de ajudar melhor suas crianças. “Muitas sofrem com questões de saúde e falta de abrigos”, diz. Também são poucos os pastores que podem ajudá-los, e acabam contribuindo com pouco, para a escola conseguir oferecer roupas, mas isso geralmente, apenas uma vez por ano.
“Eu normalmente gasto tudo o que Deus me dá com o orfanato, mas agora passamos a receber a ajuda dos pastores NCMI do Brasil, com o suporte do bispo Cláudio Modesto”, comemora.
“O pr. Sila é um homem de Deus, estudioso e ele tem me ajudado muito naquela região, onde faremos um encontro com mais de 20 pastores locais”, explica o Pr. Cláudio Modesto, líder da Comunidade Alto da Lapa, em São Paulo, e coordenador do NCMI no Brasil.
“Através do NCMI estamos trabalhando juntos para construir um novo espaço para o orfanato e mudar a comunidade”, diz o Pr. Cláudio, explicando que a ideia é construir uma base missionária naquele local.
Para a construção do novo espaço, o Pr. Cláudio colocou o arquiteto Lucas Fenandes Santos, que é cristão e brasileiro, em contato com o Pr. Sila. “O Lucas se apaixonou pelo projeto e decidiu participar conosco”.
O arquiteto trabalha com levantamento de recursos. Ele faz o projeto para que, com o dinheiro arrecadado, ações do terceiro setor possam ser colocadas em prática.
“Nossa meta é que o Lucas conclua o projeto para levantamento de recursos, mostrando o valor da obra, assim vamos fazer a apresentação para alguns patrocinadores e também fazer um Crowfund [uma espécie de vaquinha online] específica para o projeto e iniciar as obras. Acredito que vamos colocar um prazo limite que me veio à cabeça para julho de 2022”, explica o Pr. Cláudio.
No final da entrevista, o Pr. Sila agradeceu a oportunidade de poder falar sobre o ministério em Uganda. “Estamos felizes com essa cobertura que nosso trabalho recebe do Brasil”, declarou.