América do Sul pode estar na rota de ex-soldados do Estado Islâmico

O chefe do Serviço de Inteligência da Alemanha Hans-Georg Maassen disse que os serviços de segurança do mundo todo estão tendo de lidar com um número recorde de fundamentalistas islâmicos na Europa. O anúncio veio após o Estado Islâmico (EI) ter sido totalmente eliminado na Síria e no Iraque, o que gerou uma fuga de jihadistas de volta para seus países de origem.

O número de simpatizantes islâmicos atingiu uma “alta histórica”, reiterou Maassen. O número cresceu cerca de 10% nos últimos 12 meses, enquanto os fundamentalistas parecem cada vez mais ter trocado a radicalização em suas mesquitas por “pequenos círculos conspiratórios, principalmente na internet. Esse já mostrou ser um “desafio particular” para os serviços de segurança, pois a divisão de grupos islâmicos em facções menores os torna mais difíceis de monitorizar.

Tal prática gerou o que os especialistas estão chamando de cybercalifado, idéias radicais que se espalham pela web e redes sociais, atraindo todo tipo de pessoa. Eles estão presentes, inclusive, no Brasil, divulgando suas ideias e atacando sites cristãos.

Os mais perigosos são os muçulmanos salafistas, aqueles que seguem uma interpretação ultra-conservadora do Islã. Organizações desse ramo, como a Hizb ut-Tahrir veem a democracia do Ocidente como algo incompatível com as leis estabelecidas por Allah (sharia). Isso seguidamente é usado como argumento para fundamentar religiosamente atentados de grupos como a al-Qaeda e o Estado Islâmico.

Durante um encontro da Coalização Global Contra o EI, o coronel Ryan Dillon disse que eles possuem um banco de dados com 26 mil pessoas que juntaram-se à jihad do Estado Islâmico seja fisicamente no Oriente Médio seja pela internet. Destes, apenas três mil permanecem na Síria.

As advertências do chefe da inteligência ganham maior importância agora que os líderes mundiais anunciam o fim do Estado Islâmico nos territórios do Iraque e da Síria. Embora os sonhos de um califado tenham sido interrompidos, o EI continua a representar uma ameaça por meio de seus soldados leais, que estão voltando para seus países de origem. Além disso, tem grupos afiliados em vários lugares do mundo, incluindo na América do Sul.

“Não vimos nenhum grande fluxo significativo de soldados voltando para casa”, aponta o especialista. “Mas presumimos que há ocidentais que continuam lutando com o EI e pretendiam permanecer lá até o fim. Somente agora, quando não têm mais onde lutar é que vão se instalar em seus países de origem novamente”.

Os repatriados ainda representam uma ameaça, e Maassen advertiu sobre os perigos que representam as mulheres e as crianças que retornam das áreas controladas pelo EI, uma vez que a maioria foi radicalizada no tempo que vivia no califado.

“Há crianças que sofreram lavagem cerebral e foram altamente radicalizada nas ‘escolas’ do EI. É um problema para nós, pois muitas dessas crianças e adolescentes muitas vezes podem ser perigosas “, disse Maassen à DPA.
Ele acrescenta que as mulheres que voltaram para a Europa, em especial à Alemanha, vindas dos territórios dominados pelos extremistas “tornaram-se tão radicalizadas e se identificam tão profundamente com a ideologia do EI que, para todos os efeitos, também devem ser identificadas como jihadistas… devemos manter todos em nossa mira”.

Rota na América do Sul

O extremismo financiado pelo Irã e de grupos ligados a Bin Laden fizeram prosélitos na América do Sul na metade dos anos 1990. Fronteiras frágeis, crime organizado, tráfico fortalecido e corrupção facilitaram sua chegada. Outro aspecto que colabora para isso são seus apoiadores que já estão estabelecidos na região há anos.

Exista uma onda de imigração árabe antiga, reforçada por quem havia fugido de guerras ou simplesmente procurava fazer fortuna. A maioria dos países da América do Sul representavam oportunidades no passado. As maiores colônias estão no Uruguai e no Paraguai, justamente na região de fronteira com o Brasil.

Os dois trágicos atentados contra a embaixada israelense (março de 1992), que matou 22 pessoas, e a associação judaica AMIA em Buenos Aires (julho de 1994), com 85 mortos, são uma prova evidente desta ameaça. Os casos jamais resolvidos oficialmente, mas os xiitas são os principais suspeitos nessa guerra antiga contra os judeus. Do pouco que se sabe, uma certeza deveria chamar atenção: os explosivos entraram pela tríplice fronteira de Brasil, Argentina e Paraguai. 

Atualmente, as autoridades de várias nações da América do Sul dizem estudar contraofensivas, investigar denúncias e aumentar o filtro. Mas casos recentes de prisões mostram que o Brasil não está livre da ação desses grupos. https://noticias.gospelprime.com.br/estado-islamico-no-brasil-mpf-denuncia-seis-pessoas/ A nova lei da imigração, aprovada recentemente, também abre grandes brechas.

O jornalista Guido Olimpio produziu no início deste ano uma longa reportagem sobre a atuação de milícias islâmicas na América do Sul.

Ele destaca, por exemplo, que grupos terroristas conhecidos possuem bases em Ciudad del Este, situada no epicentro da tríplice fronteira e conhecida pelo comércio de mercadorias contrabandeadas. Ali abriram suas mesquitas e, ao mesmo tempo, exercer atividades comerciais que ajudam a financiar a guerrilha no Líbano.

Os soldados do Estado Islâmico podem ser a nova geração do terrorismo no Continente. Isso seria facilitado por sua ligação ideológica com Hezbollah e Irã, que estão bem estabelecidos na Venezuela, no Caribe e em outros países latino–americanos. Essencialmente, investiram em longo prazo traçando relações, ampliando participações econômicas, criando estruturas que podiam lhes ser úteis no futuro. Com informações de The Times Russia Today

Fonte: https://noticias.gospelprime.com.br