A história de Traore, um órfão cristão em Burkina Faso, cuja fé permanece inabalável mesmo após a morte do pai por jihadistas

Fonte: Portas Abertas

Em Burkina Faso, há mais de dois milhões de pessoas deslocadas, muitas delas viúvas e órfãos cristãos. Quando jihadistas mataram o pai de Traore*, em 2019, sabiam o impacto que isso teria em uma família cristã. O que eles não consideraram foi a fé e a esperança plantadas por Jesus no coração e na mente de seu povo. Apesar de se tornar órfão, Traore deseja ser um missionário para continuar o exemplo deixado pelo pai.   

Em 2020, Traore ainda era um menino, mas agora é um rapaz de 17 anos. De muitas maneiras, ele não é um adolescente comum. “Não quero me tornar médico ou entrar para o exército. É verdade que estudar é bom, afinal, pode garantir trabalho e dinheiro, mas o que estou interessado é em me tornar um missionário. Eu quero fazer isso por causa da nossa situação atual.”    

A situação a que Traore se refere é a insegurança em Burkina Faso que é o resultado da insurgência de jihadistas. Ele e sua família moravam em Arbinda, uma vila no Norte de Burkina Faso. Como muitas outras na região, Arbinda já foi um lugar pacífico e seguro para viver. Traore relembra daqueles dias. “Quando acordávamos, tínhamos nosso tempo de devocional e orações.” Era um lugar seguro para viver e trabalhar.  

Embora fosse um aluno diligente, quando não tinha aula, ficava com o pai. “Às vezes, ia pescar com meu pai. Quando voltávamos, minhas irmãs vendiam os peixes. Nas noites de sábado, jogávamos futebol, saíamos para andar pela mata ou para ver as pessoas jogando futebol.” Em 2019, Traore e a família tiveram que mudar para a região central de Arbinda. “Eu estudava em uma pequena vila, mas por causa da insegurança, viemos para a cidade, onde ficamos na casa de um pastor. A comida das ovelhas acabou e, na época, as escolas também estavam fechadas, então voltamos para casa.”   

Quando tudo mudou 

Traore não lembra o dia exato, apenas que era uma terça-feira de 2019. “Naquela manhã, meu pai me pediu para ir com ele em uma longa caminhada para juntar plantas e ervas. Ele fez café e chá para todos, incluindo nossos vizinhos. Fomos para a igreja fazer nosso devocional matinal e lembro que havia muitos pastores presentes, mas escolheram meu pai para pregar naquela manhã. Nós nos despedimos de nossa família e oramos antes de sair. A vila para onde iríamos estava a uma distância de 15 quilômetros. Após uma longa caminhada, começamos a coletar plantas e ervas. Quando terminamos de colher o que precisávamos, ouvimos o som de motocicletas se aproximando.”   

Os homens vestiam uniforme do exército. Então, em um primeiro momento, Traore e o pai pensaram que eram militares. Depois viram que seguravam bandeiras do Estado Islâmico. “Ouvimos falando em dialeto fulani. Ficamos orando enquanto eles desciam das motocicletas e nos cumprimentaram. Meu pai respondeu ao cumprimento e eles perguntaram onde estava o resto das pessoas. Meu pai não respondeu. Enquanto eles conversavam, entrei em pânico e fugi sem ser notado. De repente, enquanto tentava fugir, ouvi um tiro e comecei a correr.”   

O rapaz soube instintivamente que o pai tinha sido morto. Ele se escondeu atrás de algumas casas e, quando o barulho das motocicletas diminuiu, correu para casa. “Enquanto corria, perdi meus sapatos e fui para casa descalço. Não estava com medo, mas a ideia de ter me tornado órfão se repetia na minha cabeça.” A família ficou devastada com a morte do pai de Traore. O luto é uma emoção para a qual ninguém está preparado. “O pastor pediu a algumas pessoas para confortarem minha mãe, mas quando elas chegaram, ao invés de confortá-la, muitas começaram a chorar e foi ela quem as confortou.”    

Uma fé fortalecida 


Mesmo diante dos traumas resultantes da morte do pai, o desejo de Traore é se tornar missionário para honrar o exemplo deixado pelo pai 

Após a morte do pai, Traore teve que crescer rapidamente. Em tudo, Deus amadureceu sua fé. Além disso, o exemplo do pai permanece um raio de luz nesse tempo incerto. “Meu coração se quebra quando penso em meu pai. Mesmo nesses momentos, sei que Deus não nos esqueceu. Ele nos fala que tudo tem seu próprio tempo e faz tudo de acordo com a sua vontade.” Ainda assim, Traore não está imune à dúvida. “Às vezes, sinto que Deus me abandonou, mas quando leio a Bíblia, percebo que ele esteve comigo desde o começo. Outras vezes, penso que Deus não se importa mais comigo, mas quando leio as Escrituras e ouço o encorajamento das pessoas, percebo que Deus me sustenta em minha dor.”    

Há momentos dolorosos em que o adolescente tem plena consciência de que o pai se foi. “Às vezes, quando converso com meus amigos, eles falam sobre o pai deles e eu não posso dizer nada, porque não tenho mais um pai.” É por isso que esses grupos visam os homens, cristãos ou não. Ao eliminar maridos e pais, a família inteira fica vulnerável. “Prover comida para meus filhos se tornou extremamente difícil, porque não tenho um campo para plantio e não sei o que fazer. Não é fácil, estamos sofrendo muito”, disse Falmata*, mãe de Traore.    

As dificuldades são muitas, mas suas orações e apoio contínuo fazem a diferença na vida deles, além de permitir que a Portas Abertas garanta ajuda emergencial e apoio aos cristãos em Burkina Faso. Traore já é um pastor no coração: “Nós confiamos em Deus. Ele disse que não deveríamos nos preocupar com a nossa vida, com o que comer, beber ou vestir. Isso fortalece minha fé e me mantém prosseguindo. Quando enfrentamos dificuldades, devemos olhar apenas para Jesus”.  

*Nomes alterados por segurança.

Socorra cristãos vítimas de violência 

A violência extrema na África Subsaariana exige uma resposta urgente das igrejas locais. Grupos jihadistas como Boko Haram e Al-Shabaab espalham terror, resultando em deslocamento forçado, perseguição religiosa e desafios para os cristãos. Uma doação permite que congregações em Burkina Faso consigam auxiliar vítimas da perseguição violenta em suas necessidades materiais e espirituais e cuidados pós-trauma.