Quando o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) tomou em 2014 a cidade de Qaraqosh, no Iraque, a casa de Zarefa também foi invadida. Os extremistas encontraram um crucifixo no local, e o usaram para fazer ameaças à idosa cristã.

“Eles me obrigaram a cuspir na cruz”, ela lembra. “Eu disse a eles que eu não poderia fazer isso, que era um pecado. Ele disse que eu deveria cuspir. ‘Você não vê que eu tenho uma arma?’, ele me perguntou. Nesse instante, eu orei: ‘Eu sou fraca, vou cuspir na cruz. Mas, Senhor, peço que se vingue por mim. Não consigo escapar disso’”.

A vergonha ainda é visível no rosto de Zarefa, quando ela lembra o que aconteceu naquele dia. Sua cidade, Qaraqosh, foi libertada do domínio do EI, mas ainda está se recuperando dos últimos traumáticos anos.

O marido de Zarefa morreu pouco depois que Qaraqosh foi capturada. Ela se lembra das ameaças que eles tinham recebido nos dias anteriores, quando um grupo de jovens os puniu por falar em siríaco — uma linguagem relacionada ao aramaico, língua falada por Jesus. “Falem nossa língua!”, eles gritaram, em árabe.

Naquela época, muitas famílias já haviam deixado Qaraqosh. Mas para Zarefa, fugir não era opção. Seu marido estava morrendo e ela não tinha inimigos na cidade. Ela pensou que os dois poderiam sobreviver ali, em paz.

No entanto, Zarefa descobriu que a paz não faz parte da regra do EI. Logo após a tomada da cidade, seu marido faleceu e a deixou vulnerável. Ela se mudou para a casa dos vizinhos, mas os extremistas roubavam todos os objetos de valor que eles tinham.


Zarefa foi forçada a se converter ao Islã e cuspir numa cruz. (Foto: World Watch Monitor)

“Certo dia, o dono da casa que me abrigou nunca voltou. Algumas pessoas disseram que ele foi morto e enterrado numa área aberta. Outros disseram que ele caiu num buraco. Ainda outros disseram que só Deus sabia o que aconteceu com ele. O fato é que não o vimos mais”, lembra Zarefa.

Desde então, restaram apenas duas mulheres idosas na casa. Assim que o EI descobriu sua situação, disseram às mulheres para se mudarem para Mosul. “Nós dissemos a eles que a gente não queria sair, que esta era a nossa casa. Mas eles nos fizeram ir, mesmo contra a nossa vontade”, conta Zarefa. “Durante a noite, eles nos tiraram da casa, colocaram sacos sobre nossas cabeças e nos perguntaram se tínhamos nos convertido ao Islã”.

Assustada, Zarefa diz que rapidamente disse a eles que tinha se convertido. Poucas horas depois, quando seus capuzes foram retirados, as duas mulheres se encontraram em uma prisão de mulheres do EI, repleta de mulheres divorciadas — prática considerada crime aos olhos do EI.

Depois de alguns dias, Zarefa e sua amiga conseguiram retornar a Qaraqosh como mulheres “muçulmanas”, mas quando chegaram, se depararam com três soldados do EI. “Eles pediram para que a gente assumisse abertamente nossa conversão ao Islã”, diz Zarefa. “Eu perguntei por que devemos fazer isso. ‘Vamos escolher nosso próprio caminho e a nossa religião’, dissemos”.

O líder do grupo se irou, apontou uma arma para o coração de Zarefa e ameaçou matá-la, caso ela não se convertesse ao Islã. “O que você faria se estivesse em nosso lugar?”, pergunta a idosa. “Ele disse algo, nos pediu para repetir, e perguntou se nós éramos muçulmanas. ‘Sim’, dissemos. ‘Sim, nós somos’. E depois fomos embora”.

Mas isso não foi suficiente. Os militantes do EI continuavam vindo à sua casa para exigir dinheiro e objetos de valor. Depois de tomarem quase tudo, Zarefa escondeu sua última poupança (equivalente a 800 reais) em seu sutiã. No entanto, até mesmo isso foi descoberto.

“Eles me obrigaram a tirar e levaram meu dinheiro”, lembra Zarefa, envergonhada. “Um homem me empurrou no sofá, colocou sua arma no meu peito e me ameaçou, porque ele achava que tinha mais dinheiro para roubar. Ele gritou para mim: ‘Seremos cruéis com você até que você nos obedeça.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DE WORLD WATCH MONITOR