Antes do massacre na boate gay ‘Pulse’, em Orlando (EUA), o ataque terrorista mais mortal em solo norte-americano desde o trágico 9/11 aconteceu em San Bernardino, Califórnia, no dia 2 de Dezembro de 2015. Os autores: o filho de um imigrante paquistanês chamado Syed Farook, e sua esposa, Tashfeen Malik. Pouco antes de 11h da manhã, a dupla entrou no Centro Regional do Interior, onde Syed trabalhava e abriu fogo contra os que estavam no local.

Poucas horas anteriores e algumas quilômetros ao norte dali, Michelle Saltis lutava contra algum tipo de doença para conseguir trabalhar.

“Sabe quando você acorda pela manhã e percebe que algo está errado, fora do normal? Foi mais ou menos assim que eu senti naquele dia”, disse Michelle.

No ano passado, Michelle estava trabalhando como um especialista em saúde ambiental para o município. E quando ela começou, recebeu o seu treinamento por Syed Farook.

“Ele era o tipo de pessoa fechada, que guardava as coisas para si. Ele realmente não se envolvia muito com ninguém. Ele só parecia distante”, lembrou Michelle. “Eu só me lembro do dia em que fui a um passeio junto com ele. Ele me disse que estava esperando um bebê e eu lhe disse: ‘Oh, parabéns’, mas ele parecia desapontado. Eu só me lembro dele me dizendo: ‘bem , isso não estava em nossos planos”.
O ataque
Segundo investigações das autoridades, na manhã de 2 de dezembro, o bebê de Syed foi deixado na casa da avó. E então, por volta de 08:48, Syed chegou ao trabalho, e sentou-se a alguns metros de Michelle.

“O tempo todo, ele estava meio quieto. A única coisa que me lembro é enquanto ele estava sentado lá, ficava olhando para o seu telefone celular. Ele o pegou e fez algo com ele. E então, eu me lembro de vê-lo se levantar e ir embora”, disse Michelle.

Vinte minutos depois que Syed saiu, voltou com sua esposa. Ambos estavam vestidos como se fossem das forças táticas e carregando com eles, um armamento pesado.

“De repente, ouvi tiros”, lembrou Michelle. “Olhei para trás, e vi uma pessoa em pé. E eu o vi levantar o rifle e começar a atirar por toda a sala, da direita para a esquerda”.

“Eu simplesmente me joguei imediatamente no chão, bem rápido, e me fingi de morta, como se ele já tivesse atirado em mim.”

Michelle estava em pé ao lado de sua amiga, Yvette Velasco, no momento. Yvette foi atingida e acabou morrendo. Ela tinha 27 anos.

“O tiroteio continuou, eu não sei por quanto tempo, parecia uma eternidade para mim”, disse Michelle. “E a próxima coisa que eu me lembro é dos disparos terem cessado”.

Mas os dois terroristas pareciam não estar safisfeitos. Antes deles fugirem, um deles fez uma visita final para Michelle.

“Depois dos tiros, um deles veio e me chutou na perna direita. E então eu apenas ouvi: ‘Boom. Boom, boom, boom”, relatou a moça. “E eu percebi que fui atingida”.

_{Um homem e uma mulher entraram atirando no local, matando pelo menos 14 pessoas e ferindo pelo menos outras 17, disseram autoridades. (Foto: Reuters)}

A oração
Armado com um fuzil AR-15, um dos terroristas disparou alguns tiros à queima roupa contra Michelle.

“Eu não sabia se eu iria escapar dali viva ou não”, disse Michelle.

Então, ela começou a orar:

“Eu só fiquei lá deitada e a primeira coisa que fiz foi me voltar para Deus. Eu comecei a orar. Eu disse: ‘Deus, eu estou pronta. Eu estou pronta para ir para casa com o Senhor. Eu estou bem com isso. Mas se não for a minha hora, eu só peço que me proteja, que me mantenha segura. E mantenha todos aqui seguros, se também não for a hora deles, proteja-os. E eu continuei falando com Ele, orando que mais e mais. Então eu disse: ‘Deus, por favor me ajude a manter a calma. Eu preciso ficar calma”.

Dentro de minutos, centenas de policiais estavam ocupando o local, mas Syed e sua esposa já tinham ido embora. Acredita-se que neste momento eles tentaram detonar suas bombas, mas falharam e desistiram, deixando-as para trás. De volta ao centro, Michelle Saltis tentou se mexer.

“Foi literalmente como se estivesse em um filme”, disse ela. “A próxima coisa da qual eu me lembro, é da polícia aparecendo. Ainda assustada, eu não sabia exatamente quem eram eles, no começo. Eu estava com medo ainda porque eu os vi também com um monte de armas e pensei, ‘Oh que ótimo! Mais pessoas aqui para atirar em nós’. Eu só me lembro de ouvi-los dizer: ‘Se você está ferido ou ferida, mas pode caminhar, vamos. Se não, fique aí. Nós vamos trazer ajuda’. E eu disse a mim mesma: ‘Estou ferida. Eu sei que vai ser difícil de andar, mas eu preciso sair daqui’. Então eu peguei minha bolsa e saí correndo”.

Enquanto isso, a esposa de Syed prometia sua lealdade ao Estado Islâmico nas mídias sociais.

De volta ao Centro, Michelle Saltis estava ferida, mas estava viva. De alguma forma, as balas disparadas pelos terroristas não atingiram. Dentro de minutos, ela foi levada ao hospital de São Bernardino.

“Eu lembro que eu comecei a chorar”, disse Michelle. “Eu sabia que eu ia ficar bem. Eu sabia que Deus estava comigo”.

Por volta de 15h, uma dica levou a polícia à casa de Syed. Ele e sua esposa fugiram em um carro alugado, antes de serem mortos em uma troca de tiros com os policiais.
Perdão
Na mesma época, Michelle se recuperou de uma cirurgia e descobriu a identidade dos terroristas que atentaram contra sua vida e de seus colegas de trabalho.

“Eu fiquei chocada e questionei: ‘Por que ele faria isso?”, Disse Michelle. “Mas depois eu pensei: ‘Quer saber, eu tenho que perdoá-lo, porque é isso o que Deus faria em meu lugar”.

“Se eu perdoá-lo, mesmo que eu não aprove o que ele fez, isso vai me ajudar a seguir em frente. Vai me ajudar a me curar. Se eu não fizer isso, as coisas só vão piorar. Vai cultivar essa raiva e manter esse ódio. Isso não é o que eu quero”.

Ao todo, 14 pessoas morreram durante o tiroteio em San Bernardino. Michelle Saltis teria sido a número 15.

“O mais surpreendente é a graça de Deus, porque quando eu estava na sala, quando eu estava deitado no chão, quando eu fiz aquela oração, eu literalmente me senti protegida, como se tivesse um escudo sobre o meu corpo”, disse ela.

“Quando ele (ou ela) atirou em mim, a menos de um metro de distância, as balas não me acertaram. E eu digo a todo mundo que foi porque eu tinha o escudo de Deus sobre o meu corpo, me protegendo. Ele respondeu às minhas orações. Ele me disse, de alguma forma, que aquela não era a minha hora. Ele tem algo melhor planejado para mim”.

Hoje, Michelle ainda está sob os cuidados do médico. Ela espera voltar ao seu trabalho em breve. E de vez em quando, ela tem lembranças daqueles momentos de tensão e dificuldades para dormir. Ainda assim, Michelle está viva e mais forte do que nunca.

“Antes de todo o incidente, eu realmente comecei a questionar a minha fé”, disse ela. “Eu comecei a me sentir como se não fosse o suficiente. Mas quando aquilo aconteceu, sem dúvida, me virei para Deus. Isso me fez perceber que minha fé não era fraca. Deus estava comigo naquela manhã e quando essa coisa toda começou a acontecer, Ele estava ao meu lado. Eu sabia que Deus estava comigo o tempo todo. É por Sua graça que eu ainda estou aqui”.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DA CBN