Líderes e especialistas temem que o ataque da Rússia à Ucrânia inicie a maior guerra na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO THE WEEK E CNN

As forças russas iniciaram um ataque em larga escala à Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (24), com explosões na capital Kiev e outras cidades.

Líderes mundiais tentavam evitar a catástrofe com uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, em meio a alertas de que uma possível invasão poderia iniciar a maior guerra na Europa desde a Segunda Guerra Mundial em 1945.

Quando o ataque começou, em um discurso televisionado, o presidente russo, Vladimir Putin, alertou o Ocidente que qualquer tentativa de interferência “levaria a consequências que você nunca viu na história”.

O presidente dos EUA, Joe Biden, declarou que o mundo “responsabilizará a Rússia”. O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, condenou a ação da Rússia como uma violação do direito internacional e uma ameaça à segurança europeia.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, decretou a lei marcial, que consiste na implantação de leis e autoridades militares. 

Moradores de Kiev foram ouvidos gritando nas ruas quando as primeiras explosões aconteceram. Na manhã desta quinta, um grande tráfego de carros passou a circular nas ruas, com cidadãos saindo da capital.

Diante disso, surge a questão: estamos caminhando para a Terceira Guerra Mundial?

Em um artigo no The Wall Street Journal, o cientista político William Galston disse que a invasão da Ucrânia marcou o fim da era “pós-Guerra Fria”. 

Galston observa que as gerações de europeus do pós-guerra acreditam que “o uso da força não é mais necessário para resolver disputas entre nações”, mas o conflito Rússia-Ucrânia irá desencadear uma “crise de identidade europeia”. 

O cientista político exortou Biden a “liderar sem ambivalência”, alertando que a aliança ocidental “deve suportar” o atual desconforto “para proteger o futuro da democracia”. A alternativa, segundo ele, “é uma repetição de 1938” — quando o mundo se viu à beira da guerra.


Presidente russo, Vladimir Putin. (Foto: Wikimedia Commons/Kremlin)

O deputado Steve Aiken, membro do Partido Unionista do Ulster, da Assembleia Legislativa da Irlanda do Norte, também mencionou as guerras mundiais anteriores, em um aviso nesta semana. Ele disse ao Belfast News Letter que há “muitos paralelos para ficarmos confortáveis” com a situação na Ucrânia e a preparação para a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.

Aiken, que é ex-comandante da Marinha Real Britânica, disse ainda: “Mesmo em conflitos híbridos, há uma chance de consequências não intencionais. Tanto em 1938 quanto em 1914, ninguém pensou que isso levaria a um conflito global”.

No final do ano passado, a ministra do governo ucraniano e ex-chefe de inteligência, Yuliia Laputina, disse à Sky News que uma invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia poderia desencadear a “Terceira Guerra Mundial” se a ação militar de Putin se espalhar para outras ex-nações soviéticas.

No entanto, um correspondente da Sky News, Alistair Bunkall, disse na semana passada que não via uma ameaça do conflito Rússia-Ucrânia “se espalhar ainda mais pela Europa”, e observou que a OTAN não enviará tropas, porque a Ucrânia não é membro da aliança. “Dito isso”, acrescentou, “a guerra pode se desenrolar rapidamente”.

“Estamos testemunhando o prelúdio da 3ª Guerra Mundial?” questionou nesta quarta-feira (23) o correspondente de segurança da BBC News, Frank Gardner. “Enquanto não houver conflito direto entre a Rússia e a OTAN, não há razão para que essa crise, por pior que seja, se torne uma guerra mundial em grande escala”, concluiu. 

China e Irã

De acordo com uma análise publicada pela revista The Week, o chefe do MI6, Richard Moore, alertou no ano passado que a ascensão da China era a “maior prioridade” do Serviço Secreto de Inteligência Britânico, já que Pequim continua realizando “operações de espionagem em larga escala contra o Reino Unido e nossos aliados”.

Em discurso feito ao Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em novembro, Moore disse que a “crescente força militar” da China e o desejo de reunificação com Taiwan “representam um sério desafio à estabilidade e paz global”.

Embora Biden possa ter afirmado que os EUA não estão tentando iniciar uma nova guerra fria com a China, em meio às questões que envolvem Taiwan, especialistas fazem um alerta diferente.

“Uma guerra fria com Pequim que já está em andamento. A pergunta certa, em vez disso, é se os Estados Unidos podem impedir a China de iniciar uma guerra quente”, disseram Michael Beckley, professor associado da Universidade Tufts, e Hal Brands, professor de assuntos globais da Johns Hopkins, à revista The Atlantic.


O líder chinês Xi Jinping em encontro com o líder supremo do Irã, Ali Khamenei. (Foto: Wikimedia Commons/Khamenei)

O MI6 também permanece “ativamente focado” no Irã, informou seu chefe em novembro, observando que a liderança iraniana “abraçou uma doutrina explícita de conflito com Israel e o Ocidente” desde a revolução islâmica em 1979.

Ameaça a Israel

O Irã usa o Hezbollah para provocar “turbulência política” em outros países, construiu uma “capacidade cibernética substancial” para usar contra seus rivais e continua desenvolvendo tecnologia nuclear “que não tem uso civil concebível”, disse Moore.

As negociações para restaurar o acordo nuclear de 2015 do Irã começaram em Viena no final do ano passado, três anos depois que Donald Trump retirou os EUA do acordo. 

Biden quer voltar ao acordo em busca de limitar as atividades nucleares do Irã, prometendo em troca o fim das sanções econômicas. No entanto, Teerã está se recusando a manter conversas diretas com Washington, já que não é mais membro do acordo.

Mas a perspectiva de um acordo está “disparando alarmes em Israel”, que teme que isso não impeça o Irã de desenvolver armas nucleares. 

O primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, alertou esta semana: “O possível acordo, ao que parece, é altamente provável que crie um Oriente Médio mais violento e volátil”.

Em um sinal da crescente preocupação com as atividades do Irã, os estados do Golfo se juntaram a Israel pela primeira vez em um exercício militar conjunto, organizado pela Marinha dos EUA no ano passado, informou a BBC. 

É um movimento “quase impensável” há apenas três anos e foi possível por causa dos Acordos de Abraão em setembro de 2020, quando os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein normalizaram suas relações com Jerusalém.