O fogo começou por volta das 19h30 deste domingo (2) e só foi controlado por volta das 2h da madrugada desta segunda-feira (3).
A maior parte do acervo, de cerca de 20 milhões de itens, foi totalmente destruída. Fósseis, múmias, registros históricos e obras de arte viraram cinzas. Pedaços de documentos queimados foram parar em vários bairros da cidade.
Cerca de 80 homens de 12 quartéis do Corpo de Bombeiros foram enviados ao local para combater o incêndio que começou por volta das 19h30 deste domingo (2). Parte do interior do edifício desabou.
Segundo o comandante-geral dos bombeiros do Rio, Roberto Robadey, o combate ao fogo foi prejudicado por falta de água nos hidrantes próximos ao edifício. Os bombeiros tiveram que apelar a caminhões-pipa e até para a água do lago próximo.
Segundo a assessoria de imprensa do museu e o Corpo de Bombeiros, não há feridos. Apenas quatro vigilantes estavam no local, mas eles conseguiram sair a tempo. As causas do fogo, que começou após o fechamento para a visitantes, serão investigadas.
Pastores, escritores e músicos cristãos lamentaram a tragédia de grande proporção para a cultura nacional. Confira abaixo:
“O Museu Nacional virou cinza. O Museu do Ipiranga está fechado há anos. Um povo que não cultiva a memória não amadurece nunca. Um povo sem memória sempre precisa começar do zero. Um povo sem memória corre atrás do vento.” Gutierres Siqueira, escritor assembleiano;
“Nossa história em chamas… tristeza” Helena Tannure;
O pastor Ed René Kivitz postou uma imagem usada pelos internautas demontrando luto pela tragédia.
Caio Fábio, amigo de Ed René, também lamentou comentando o post do companheiro;
Museus em países sérios são tratados de forma especial, mas, no Brasil, terra da corrupção, nossos acervos viram cinzas, pelo simples fato de que o Estado é incompetente.” Renato Varges;
O pastor Ciro Sanches Zibordir também demonstrou tristeza pela perda ao comentar as palavras de seu amigo pastor Renato Varges.
História perdida
Mais antigo do país, o Museu Nacional é subordinado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e vem passando por dificuldades geradas pelo corte no orçamento para a sua manutenção.
Desde 2014, a instituição não vinha recebendo a verba de R$ 520 mil anuais que bancam sua manutenção e apresentava sinais visíveis de má conservação, como pareces descascadas e fios elétricos expostos.
A instituição está instalada em um palacete imperial e completou 200 anos em junho —foi fundada por dom João 6º em 1818.
Seu acervo, com mais de 20 milhões de itens, tem perfil acadêmico e científico, com coleções focadas em paleontologia, antropologia e etnologia biológica. Menos de 1%, porém, estava exposto.
O museu guardava o meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no país, e uma coleção de múmias egípcias. Também o crânio de Luzia, a mulher mais antiga das Américas. Além de coleções de vasos gregos e etruscos (povo que viveu na Etrúria, na península Itálica).
Em maio, o diretor do Museu Nacional Alexander Kellner, 56, criticou a falta de verbas. “O maior acervo é este prédio, um palácio de 200 anos em que morou dom João 6º, dom Pedro 1º, onde foi assinada a Independência. A princesa Isabel brincava aqui, no jardim das princesas, que não está aberto ao público porque não tenho condições”, disse à Folha.
Um terço das salas de exposições estavam fechadas, incluindo algumas das mais populares, como a que guarda um esqueleto de baleia jubarte e a do Maxakalisaurus topai —o dinoprata, primeiro dinossauro de grande porte já montado no Brasil.
Para reabrir a sala, interditada havia cinco meses após um ataque de cupins, o museu armou uma campanha de financiamento coletivo na internet —arrecadou R$ 58 mil, mais do que a meta de R$ 30 mil.
Mas a decadência física do prédio já era visível para os visitantes, que pagavam R$ 8 pelo ingresso inteiro. Muitas de suas paredes estavam descascadas, havia fios elétricos expostos e má conservação generalizada.
No bicentenário, a instituição celebrou com o BNDES um contrato de R$ 21,7 milhões para investir em sua restauração. Havia outra negociação milionária encaminhada para bancar uma grande exposição —a expectativa era de que cinco das principais salas fossem reabertas até 2019.
Alexandre Kellner dizia ser necessários R$ 300 milhões, investidos ao longo de pelo menos uma década, para executar o Plano Diretor do museu.
O diretor lembrou também que o último presidente a visitar o museu foi Juscelino Kubitschek (1956-1961). “O Brasil não sabe da grandeza, da riqueza disso aqui. Se soubesse, não deixaria chegar neste estado”, disse Kellner, em maio.
Fonte: JM Notícia e Folha de São Paulo