Voddie Baucham alertou sobre o perigo de movimentos de justiça social se tornarem ‘religiões’, que pregam salvação de alguma forma que não seja em Jesus.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO FAITH WIRE

Voddie Baucham, um americano que atualmente é decano de Teologia da Universidade Cristã Africana em Lusaka, Zâmbia, participou na última quinta-feira (18) do programa de Rádio do produtor Glenn Beck para falar sobre justiça social e o movimento ‘Black Lives Matter’. Ele aproveitou para alertar os crentes sobre o movimento que se coloca como uma frente de “combate ao racismo” também traz consigo uma mensagem frequentemente “anticristã” .

Baucham também explicou por que as pessoas parecem estar falando duas línguas diferentes quando se trata dos debates decorrentes do caso em que George Floyd morreu durante uma ação policial nas ruas de Minneapolis, Minnesota (EUA).PUBLICIDADE

Baucham é hoje um renomado palestrante cristão e abordou a questão da justiça social por mais de uma década em suas ministrações. Ele acredita que o clamor por esta causa na pós-modernidade opõe-se diretamente à mensagem do Evangelho.

Beck e Baucham começaram falando sobre o gnosticismo, que deriva do termo grego “gnose” ou “ter conhecimento secreto”. Baucham cunhou a frase “gnosticismo étnico” que, como Josh Buice explica, é “a ideia de que os negros (e outras etnias, incluindo também os brancos) têm a capacidade de possuir um conhecimento secreto de motivos, intenções e objetivos em situações específicas, como os casos recentes envolvendo policiais e homens negros”.

Isso é crítico, explica Baucham, porque ele acredita que isso é contrário ao Evangelho cristão.

“Temos que entender que nosso conhecimento vem de Deus, que Deus é a fonte de todo conhecimento”, disse Baucham. “Entendemos que as Escrituras são suficientes. E nós vamos à Bíblia, para entender a verdade. E olhamos para o mundo do jeito que ele é … Então, como cristãos, esses são os caminhos que buscamos pela verdade. Não através de indivíduos especiais, que têm conhecimentos especiais”.

Baucham explicou que os líderes de justiça social hoje “comparam esse movimento, esse tipo de movimento anti-racismo, a uma religião”.

“Jim Wallace escreveu um livro, e o título de seu livro era ‘Pecado original da América’. Então, novamente, há conotações religiosas por lá”, lembrou o teólogo.

“E o que me preocupa é que existem problemas reais. O racismo é real. Existe um verdadeiro mal. Existe um verdadeiro ódio. Existe uma verdadeira injustiça. E a resposta para essas coisas é um Deus que salva, através de Jesus Cristo. Essa é a nossa mensagem como cristãos, certo? Ou pelo menos deveria ser”, acrescentou

Voddie então mostrou que muitas pessoas estão se perdendo nessa busca por respostas quando não recorrem à Bíblia, ainda que tenham boas intenções.

“A resposta não é outra senão o perdão que encontramos, através de Deus em Cristo. Agora a resposta é: de alguma forma, você precisa fazer ‘penitências suficientes’. E tem sido interessante assistir cenas de pessoas brancas, literalmente ajoelhadas, curvadas em arrependimento, você sabe, pelo pecado deles, por terem o ‘privilégio branco’. Ou, você sabe, preconceito. Ou viés consciente. Ou preconceito inconsciente. Ou qualquer outra coisa”, afirmou.

Baucham diz que é precisamente por isso que o movimento pela justiça social, embora bem-intencionado (pela maioria) é, em última análise, problemático.

“E o problema é que essa ‘religião’ está prometendo salvação em algum lugar que não é em Deus”, disse Baucham. “E, infelizmente, há muitos cristãos que parecem satisfeitos com isso”.

Terrence Floyd é irmão de George Floyd e condenou protestos violentos que estão ocorrendo nos EUA. (Foto: Stephen Maturen/ Getty Images/ AFP)

Justiça social

Baucham diz que há muitos fatores encobertos no movimento da justiça social que o que os cristãos normalmente não enxergam.

“A justiça social busca a redistribuição de recursos e oportunidades”, explicou Baucham. “Justiça social não é o mesmo que a ideia bíblica e o conceito bíblico de justiça. Você também precisa entender que a justiça social é construída com base na teoria crítica. Ela se baseia na ideia de, você sabe, hegemonia e estruturas de poder”.

O apresentador do programa então descreveu isso como “um mundo invertido, contrário ao que Deus quer”. Ele destacou dizendo que as pessoas parecem “querer se dar bem” e ajudar a situação, mas o que está acontecendo agora é que as pessoas estão expressando simpatia e querendo ajudar, mas também estão sendo acusadas de causar toda a dor em primeiro lugar.

“Isso não faz sentido para mim”, concluiu Beck.

O teólogo então respondeu a esse comentário, destacando que foi um importante adendo.

“Acho que você encontrou algo muito importante quando diz que não faz sentido para você”, começou Baucham. “Acho que o que está acontecendo é que as pessoas estão tendo duas discussões diferentes. E elas não percebem isto”.

“As pessoas olham para casos, por exemplo, como a morte de George Floyd e veem essa situação trágica. E por um lado, há essa compensação universal sobre que aconteceu. Mas então o que acontece? As pessoas estão explicando isso, de duas maneiras diferentes. Algumas pessoas dizem: ‘veja, existe o racismo’. E há outras pessoas que estão dizendo: ‘espere, você sabe, havia quatro oficiais. Dois negros, um asiático e oficial branco que fez isso, como declaramos que isso é racismo?’”, explicou Baucham.

“E o que é um exemplo disso são essas duas visões de mundo concorrentes. Uma visão de mundo, que diz, o racismo é individual. É uma questão individual do coração. E é nesse mundo que lidamos com a questão do coração individual, com a mensagem do Evangelho. Mas há outra visão de mundo que diz: não, não, não, não. Independentemente da questão individual do coração, esta é uma questão estrutural e institucional”, acrescentou.

Baucham então apontou: “Portanto, é isso que confunde as mentes das pessoas. Às vezes, eles dizem que não importa quais são os fatos do caso. Isso é evidência de racismo estrutural e institucional. E o que isso está fazendo é separar as pessoas. Como estamos tendo duas conversas diferentes, isso não faz sentido um para o outro”.

Quando a justiça social é injusta

Baucham diz que foi atacado por expressar suas opiniões sobre o movimento pela justiça social, o que ele diz ser frustrante.

“Quando você fala sobre isso de uma maneira geral, as pessoas tendem a pensar, oh, você simplesmente não tem empatia. Você simplesmente não tem compaixão. Você simplesmente não entende o quão ruim isso é”, disse.

“Eu, quem cresci em um ambiente infestado de drogas, de gangues em Los Angeles, nascido em 1969. Cresci durante a era do crack, durante a guerra às drogas, filho de uma mãe budista. Eu não fui criado no cristianismo. Nunca ouvi o evangelho na minha infância e adolescência, até que cheguei à universidade”, relatou.

“Por isso não entendo quando as pessoas tentam me excluir desse debate. Eu já fui abordado de forma truculenta pela polícia, porque simplesmente estava sentando na calçada, no lugar errado na hora errada. Eu sei que esse tipo de coisa acontece. E, no entanto, ainda digo, que essas ideologias são venenosas”, acrescentou.

Baucham diz que mensagens que apontam para uma salvação que não seja o Evangelho de Jesus “precisam ser confrontadas” porque “essas ideologias realmente comprometem nossa mensagem, como cristãos.

“Estou preocupado com as pessoas. Estou preocupado com a justiça. Estou preocupado com almas. E eu sei de onde essas coisas vêm. Eu entendo de onde elas vêm. E não estou disposto a escrever a minha própria Bíblia. Mas não aceito o fato de alguém me forçar a concordar com certas coisas, simplesmente porque, se eu não o fizer, irão, você sabe, me rotular”, destacou. “Eu não poderia me importar menos com as pessoas me rotulando e me chamando de nomes. Eu sei quem eu sou diante de Deus. Minha consciência está limpa”.