Tentativa do governo não conseguiu nenhum resultado concreto

por Jarbas Aragão

Após uma série de atentados terroristas nos últimos anos – incluindo a redação do jornal Charlie Hebdo e a boate Bataclan – o governo da França resolveu criar um programa de desradicalização islâmica.

Em maio do ano passado, o primeiro-ministro Manuel Valls, anunciou 80 novas medidas antiterrorismo, incluindo a criação de centros em todo o país que tinham como objetivo desradicalizar cidadãos ou prevenir que eles se envolvam com grupos terroristas.

Na semana passada, surgiram os primeiros números, mostrando que a iniciativa foi um tremendo fracasso. O relatório preliminar, divulgado pelo Congresso, revela que o governo investiu dezenas de milhões de euros dos contribuintes para combater a radicalização islâmica na França, onde 238 pessoas foram mortas em ataques jihadistas desde janeiro de 2015.

O material, apresentado à Comissão de Assuntos Constitucionais e Jurídicos do Senado em 22 de fevereiro, é intitulado “Desdoutrinação, Desrecrutamento e reintegração de jihadistas na France e na Europa”. Curiosamente, o título não usava mais a palavra “desradicalização” porque era considerado politicamente incorreto.

A conclusão, divulgada pelo jornal Le Figaro, é que essa desradicalização, seja em centros especializados ou em prisões, não funciona porque a maioria dos islâmicos simplesmente não querem ser mudar de ideia.

A França possui um registro nacional com cerca de 8,250 radicais islâmicos residentes no país. Desde o ano passado, apenas 17 assinaram todos os papéis para fazerem o curso de dez meses e apenas nove se apresentaram nos centros. Nenhum residente concluiu o currículo integral até agora, uma vez que ele não é obrigatório.

A tentativa de desradicalizar nas cadeias também fracassou. A iniciativa de colocar os islâmicos em alas separadas mostrou que eles se tornaram mais violentos, uma vez que foram influenciados pelo “efeito de grupo”, segundo o ministro da Justiça, Jean-Jacques Urvoas.

A comissão parlamentar interpartidária que estuda o caso afirma que o projeto do governo é um “fracasso total” e precisa ser “completamente repensado”.

O relatório final só deve ficar pronto em julho, mas as conclusões preliminares criticam o investimento previsto de 40 milhões de euros para a construção de 13 centros de desradicalização – cujo nome oficial é Centro de Prevenção, Integração e Cidadania. O objetivo inicial era ter um desses em cada região metropolitana das principais cidades do país.

Cada centro receberia cerca de 25 indivíduos, homens e mulheres, com idade entre 18 e 30 anos, durante dez meses. O governo esperava que 3.600 pessoas foram desradicalizadas nos próximos dois anos.

Apenas um centro está aberto

O primeiro e até agora único centro de desradicalização funcionando plenamente foi instalado em uma mansão isolada do século XVIII em Orleans, centro da França, em setembro de 2016. Na ocasião, foi anunciado com grande pompa que ele seria o projeto-piloto, teria 59 pré-inscritos. Porém, quando os senadores Esther Benbassa e Catherine Troendlé, que lideram a força-tarefa do Congresso, visitaram o local em 3 de fevereiro, encontraram apenas uma pessoa sendo tratada no local.

Após cinco meses de funcionamento, a mansão está vazia, apesar de empregar 27 pessoas, incluindo cinco psicólogos, um psiquiatra e nove educadores, a um custo anual de 2,5 milhões de euros.

Passaram por ali, mas não ficaram, um jihadista de 24 anos chamado Mustafa S., que foi preso durante uma operação de combate ao terrorismo perto de Estrasburgo, em 20 de janeiro de 2017. A polícia acredita que ele tinha ligações com um dos autores do ataque ao Bataclan de Paris. Mustafa hoje está preso pois estava a caminho da Síria, onde se juntaria ao Estado Islâmico.

O sociólogo franco-iraniano Farhad Khosrokhavar, especialista em radicalização, disse ao site França 24 que a única opção real do governo para lidar com jihadistas é prende-los.

“Algumas pessoas podem ser desradicalizadas, mas não todas. É algo impossível quando se trata de jihadistas convictos. Esses tem perfis muito perigosos e representam cerca de 10% a 15% daqueles que foram radicalizados. A prisão pode ser uma das únicas maneiras de lidar com esses fanáticos religiosos”.

Embora muitos rejeitem a definição, o termo jihadista é inerentemente religioso, pois deriva da jihad – guerra santa – um preceito do Alcorão, comumente ensinado nas mesquitas de todo o mundo, como uma forma de agradar a Alá e garantir um lugar no céu.

Fonte: https://noticias.gospelprime.com.br