Agência Brasil

O ataque de cerca de 40 pistoleiros à comunidade pode ter levado à morte o cacique guarani kaiowá

Mesmo sob o risco de um novo ataque, os indígenas do acampamento Tekoha Guaiviry, no município de Amambai, em Mato Grosso do Sul, querem permanecer nas terras ocupadas. Na última sexta-feira (18), o ataque de cerca de 40 pistoleiros à comunidade pode ter levado à morte o cacique guarani kaiowá, Nísio Gomes e ao desaparecimento de três indígenas.

De acordo com relato dos índios, o cacique foi baleado e o corpo levado pelos pistoleiros. Eliseu Lopes, uma das lideranças dos guarani-kaiowá em Mato Grosso do Sul, acompanhou as atividades da Polícia Federal e da Fundação Nacional do Índio (Funai) no acampamento. Segundo ele, a prioridade, no momento, é encontrar o corpo do cacique e os jovens desaparecidos.

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Lopes relatou que a comunidade está apreensiva, porém está decidida a permanecer no local, pois não têm medo de novos ataques. “Se tivessem medo, iam todos embora. Nós, indígenas, nunca fizemos como eles fizeram, nunca matamos. Esse tipo de pessoa é um animal e não um ser humano”, disse ele.

Segundo Lopes, o cacique era um importante líder dos guarani-kaiowá, que havia lutado mais de 30 anos pelas terras. “Eles [os fazendeiros] pensam que, quando matam uma liderança, vão acabar com a nossa luta, mas isso não acontece. É só na cabeça deles.”

O coordenador estadual do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Flávio Vicente Machado, disse que o clima é de “tensão total” na região. Segundo ele, a comunidade está apreensiva, pois tiveram a informação de que o grupo de pistoleiros está se reorganizando e pode atacar novamente. “O ônibus que foi levar a família do Nísio ao local, segundo os indígenas, foi atacado por caminhonetes”.

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Para Machado, a grande repercussão do caso não foi suficiente para coibir o grupo criminoso e para garantir a proteção dos indígenas. “A Funai está sucateada. Não oferece condições mínimas para atender uma demanda como essa. A gente está se mobilizando para cobrar do governo federal uma intervenção no local. É preciso fazer uma força tarefa”.

Na última sexta-feira (18), o coordenador da Funai em Ponta Porã, Sílvio Raimundo da Silva, e equipes da Polícia Federal estiveram no acampamento. “Quando a gente chegou lá, nos deparamos com uma comunidade bastante desesperada, agitada com os acontecimentos”.

Uma equipe da perícia técnica constatou que houve um ataque com armamento de munição de balas de borracha. Porém não sabe se houve uso de armas letais, embora tenha encontrado grande quantidade de sangue no local onde o cacique desapareceu. “A perícia fez a coleta de amostras [de sangue] e agora está coletando amostras do filho do cacique para poder comparar e ver se é o sangue é do cacique desaparecido”.

A região é palco de conflitos entre os interesses dos índios e das empresas de agronegócio.

A Polícia Federal informou que está investigando o caso e colhendo o depoimento dos indígenas que presenciaram o ataque. Segundo a corporação, as equipes estão na área para tentar normalizar a situação na comunidade. O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul também abriu inquérito e está acompanhando o caso. O procurador disse, por meio da assessoria, que não vai se pronunciar por enquanto.

A etnia guarani-kaiowá, concentrada no cone sul do Estado, é a que sofre a maior violência. A taxa de homicídio entre os guarani-kaiowá do estado é quatro vezes a média nacional, alcançando um assassinato para cada mil habitantes.